"Pam & Tommy" é uma boa série. Mas não pelo que conta
Mas sim pela qualidade dos seus protagonistas.
Falta menos de um mês para o arranque da HBO Max em Portugal. O lançamento está marcado para 8 de março e, nessa altura, a HBO Portugal deixará de existir para ressurgir de forma refinada, melhorada e com os olhos postos em 2022. Já fazia falta.
Também nessa altura, terei certamente coisas novas para vos sugerir. Especificamente, "Station Eleven" e "Peacemaker", que ainda não estão disponíveis em Portugal e que, ao que tudo indica, farão parte da oferta inicial da Max.
Escrevi sobre o que esperar da HBO Max (preços, características técnicas do serviço e outras coisas importantes) numa longa thread no meu Twitter. Deixo-a aqui para que possam ir lá dar um saltinho.
Qualquer coisa, mandem um oi.
Vamos às séries deste mês.
"Pam & Tommy" (Disney+)
Contra todas as probabilidades, "Pam & Tommy" não é uma má série. E era fácil sê-lo se, ao contrário do que faz aqui, preferisse chafurdar na lama e explorar um escândalo sobre o qual já se disse tudo. Mas vou arriscar dizer que o único ponto fraco da série é precisamente esse: a história. Não só porque já a vimos contada antes — seja em peças escritas ou documentário —, mas porque não traz nada de novo à arte de contar.
Não é que esta precise, claro. Afinal, tem os ingredientes certos para render e atrair público, mas facilmente percebemos que o interesse está não naquilo que nos quer dizer, mas nas interpretações dos seus protagonistas.
E se é verdade que Lily James está irreconhecível e muito capaz na pele de uma Pamela Anderson que quer ser mais do que os rótulos que lhe colaram, é Sebastian Stan que brilha e domina todas as cenas em que entra. "Pam & Tommy" é uma série bastante competente, que entretém, e que servirá para quem, não conhecendo a história real, fique aqui com uma versão mais aproximada do que supostamente terá acontecido.
Apesar de a recomendar com relativa facilidade, é mau sinal se esta for a série a brilhar nos Emmys.
"Trigger Point" (BBC)
A série não está disponível, de forma legal, em Portugal. E isso talvez ajude a explicar por que se fala tão pouco dela. "Trigger Point" é a nova série que tem como produtor executivo Jed Mercurio, o mesmo que escreveu a brilhante "Line of Duty" e a menos bem conseguida "Bodyguard" — ambas na Netflix.
O foco está numa brigada anti-bomba e numa ameaça terrorista, envolta numa enorme conspiração, que paira sobre vários pontos de Londres. Em termos narrativos, é mais um policial em que o desenvolvimento de personagem é deixado para segundo plano porque o que interessa, claro, é a tensão de cada momento limite.
E "Trigger Point" está repleto deles, logo a começar pelo primeiro episódio que faz um excelente trabalho de ir ganhando ímpeto para um clímax inesperado, mas nem por isso chocante.
Ver esta série britânica, protagonizada por Vicky McClure, é ter a garantia de que pelo menos uma bomba vai explodir por episódio, mas que apesar da expectativa, seremos sempre apanhados de surpresa. Não é genial, não vai ganhar prémios, mas estou viciado nesta intriga.
Isso chega-me.
"A Very British Scandal" (HBO)
Tem apenas três episódios, por isso é perfeita para aqueles que estão constantemente a dizer que não têm tempo para nada. Três episódios, pá. "A Very British Scandal" traz à televisão mais um escândalo sexual — porque o sexo rende sempre na televisão — que fez comichão à sociedade britânica.
Inspirada no divórcio entre o duque e a duquesa de Argyll, em 1963, traz-nos o retrato de uma mulher que, apesar do seu estatuto, pautou pela diferença ao, após opor-se ao marido, posar para revistas enquanto mulher divorciada e acusada de crimes como falsificação, roubos, consumo de drogas e suborno.
Tem todos os temas palpitantes e interpretações magníficas tanto de Paul Bettany como de Claire Foy. Além disso, é a série em que estão constantemente a ser recordados de que não, não estou a ver a rainha a fazer coisas indecentes.
Entendedores entenderão.
"The Afterparty" (Apple TV+)
Esta será, muito provavelmente, uma das minhas séries do ano, Única e exclusivamente pela forma diferenciadora como aborda o género whodunnit. "The Afterparty" é uma comédia e começa com a reunião de antigos colegas de escola que dá para o torto. Um dos colegas, que entretanto se tornou no Justin Bieber lá do sítio, aparece morto e todos o que contactaram com ele naquela noite são considerados suspeitos credíveis.
Quando uma agente de polícia desbocada, irreverente e quadrilheira é chamada para investigar o caso, começa uma ronda de entrevistas no próprio local do crime. As histórias que vai ouvindo de cada um servem para voltar atrás na cassete e mostrar o início da noite segundo perspetivas diferentes.
E os relatos das personagens, que ocupam cada episódio, são tão diferentes que assume géneros narrativos e estilíticos diferentes ao serem contadas ora em jeito de comédia romântica, ora como thriller psicológico ou filme de ação.
Altamente recomendável.
Coisas várias a que devem estar atentos nos próximos tempos e alguma leitura recomendada
As séries Marvel vão sair da Netflix a 28 de fevereiro. Os direitos revertem para a Disney, mas não é claro se irão de imediato para a Disney. As séries são "Daredevil", "Jessica Jones", "Luke Cage", "Iron Fist", "The Defenders" e "The Punisher";
A HBO Max já tem data de arranque em Portugal: 8 de março, substituindo a HBO Portugal nessa altura. Podem saber tudo nesta thread que escrevi;
"Moon Knight", com Oscar Isaac, é a primeira série da Disney+ do ano a ter data de estreia: 30 de março;
The Dropout, sobre Elizabeth Holmes, chega à nossa Disney+ a 20 de abril. Nos EUA, a série começa a 2 de março;
West Side Story chega à Disney+ a 2 de março;
Leitura interessante sobre a compra do Wordle por parte do The New York Times e a aposta do jornal em jogos como forma de financiar reportagens e enviados especiais;
A Vanity Fair já viu os primeiros três episódios da série "The Lord of the Rings" e gostou bastante;
A primeira parte da última temporada Better Call Saul arranca a 18 de abril. A segunda, só a 18 de julho;
Obi Wan Kenobi, com Ewan McGregor, a 25 de maio na Disney+;
Vem aí uma série baseada no livro explosivo sobre o Facebook. Chama-se Doomsday Machine, foi comprada pela HBO e tem Claire Foy no elenco;
Em maio, estreia-se "Conversations With Friends", a segunda adaptação televisiva dos livros de Sally Rooney feita pela mesma malta de "Normal People";
"How To With John Wilson" foi renovada para uma terceira temporada;
"Reacher" foi renovada para uma segunda temporada;
O texto mais sóbrio sobre a queda de Joss Whedon e esta coisa estúpida de se idolatrar pessoas.
Obrigado a todos por continuarem desse lado.
Vemo-nos para o próximo mês.