Muitas séries para ver? Nem imaginam como vai ser abril
Russian Doll está de volta, assim como Borgen, Barry e Better Call Saul. E ainda há estreias absolutas. Oof.
E este março que passou, hein? Finalmente, o lançamento da HBO Max em Portugal e a surpresa de uns Óscares corridos à chapada.
No que toca às séries, parece-me que a partir de agora começaremos a ver uma avalanche de lançamentos que a pandemia fez questão de atrasar. Basta olharmos para a abril para percebermos o quão louco será o próximo mês.


Para facilitar, deixei, abaixo, uma pequena lista daquilo que devem mesmo espreitar. Agradeçam-me depois.
Quanto às séries que tenho estado a ver e que quero muito recomendar, são estas quatro.
Severance (Apple TV+)
Ainda a viver em contexto pandémico, e durante o qual alguns de nós reavaliámos aquilo que estávamos dispostos a fazer em troco de um salário digno por mês, surge Severance, uma das grandes estreias da Apple TV+.
A série é meio distópica, focando-se numa empresa que exige que os seus funcionários sejam submetidos a uma intervenção cirúrgica que lhes separa as memórias pessoais das profissionais. Quando estão no trabalho, não sabem que pessoas são em contexto pessoal, por que tragédias passaram e que pessoas fazem parte do seu núcleo mais próximo. Quando estão em casa, sabem apenas que aceitaram aquela intervenção de livre e espontânea vontade, mas desconhecem o que fazem, para quem o fazem e com que colegas lidam diaraimente.
A série levanta questões éticas e morais interessantes sobre 1) o que implicaria sermos duas pessoas diferentes sem que saibamos como existimos fora dos dois contextos a que estamos obrigados a agir; 2) ao aceitarmos sermos "separados", continuamos a ser donos de nós? Se sim, como?; e 3) quais as responsabilidades de uma empresa que nos controla, mesmo quando não estamos a trabalhar?
Apesar de ser um drama denso, Severance tem muito humor, momentos desconfortáveis e uma bizarria muito própria captada pela câmara do Ben Stiller. Sim, esse mesmo. Para ver com moderação, cautela e mente aberta.
A viagem vale a pena.
Suspicion (Apple TV+)
A Apple TV+ está cada vez mais recomendável. Suspicion não é particularmente surpreendente ou inovadora (não como Severance, pelo menos, mas também não é isso que se espera), mas entretém.
Esta é para os fãs daqueles thrillers em que tudo acontece a uma velocidade quase vertiginosa em que quase não há tempo para pensar — talvez porque, se o fizermos, começamos a questionar a lógica daquilo que nos estão a mostrar. A série foca-se num grupo de estranhos que é acusado de ter raptado um jovem ligado à elite britânica e cujo desaparecimento deixa uma mãe (interpretada por Uma Thurman) desolada. Mas nada é o que parece e rapidamente percebemos que, afinal, estes estranhos têm muito mais em comum do que pensavam. À medida que vão fugindo, a grande conspiração vai adensando-se ao ponto do não retorno.
O final é, devo dizer-vos, muito fraquinho, mas acho que vão gostar da viagem. Até porque podem ir fazendo apostas com os amigos para ver quem acerta em identificar o mauzão da série.
Moon Knight (Disney+)
Vai haver malta a ficar desiludida com isto. A primeira série Marvel do ano foi promovida como tendo um tom diferente das restantes, em grande parte devido à personagem principal, que aqui é interpretada por um carismático e versátil Oscar Isaac. A descrição da série veio do próprio Kevin Feige, numa altura em que as produções da Marvel para a Netflix (Jessica Jones, Daredevil, The Punisher, ...) passaram a estar no catálogo da Disney+, exceto em Portugal.
Teorizou-se que este podia ser o ponto de viragem no MCU e que, de agora em diante, poderíamos ter um universo mais violento e, quiçá, mais "maduro", independentemente do que isso possa significar. Talvez tenhamos alguns laivos disso em algumas séries ou filmes novos, mas o MCU manter-se-á, na sua generalidade, tal como nos habituou, porque em fórmulas vencedoras não se mexem. É o meu take. Posto isto, e arriscando escrever a propósito de uma série sobre a qual só vi apenas um episódio, identifico em Moon Knight muita da fritaria, originalidade e vontade de arriscar que me fez adorar WandaVision, que considerei uma das melhores séries de 2021.
Oscar Isaac é o tipo certo para o papel de um homem que sofre de transtorno de personalidade e Ethan Hawke o vilão, e líder de um culto misterioso, carismático e sempre em forma. Porém, e apesar de alguns dos comics de Moon Knight poderem sugerir isso, não há aqui a brutalidade de Daredevil ou de The Punisher. Talvez não precise de haver, porque a bizarria que vemos no episódio piloto chega e basta. Vou seguir com muita atenção, numa altura em que, do atual leque de séries Marvel da Disney+, apenas gostei verdadeiramente de duas: WandaVision e Hawkeye. Curiosamente, esta última é, em comparação, bastante genérica. Mas tem coração, coisa que faltou a The Falcon and the Winter Soldier, por exemplo.
Já agora: caso queiram acompanhar esta nova série com alguma leitura, acabou de sair a coletânea Moon Knight: The Complete Collection, com argumento de Jeff Lemire e ilustração de Greg Smallwood. O link é da BookDepository, mas devem encomendar isto às lojas especializadas em banda desenhada, que são quem mais precisam do vosso dinheiro.
Em Lisboa, recomendo a BdMania e a Kingpin Books. No Porto, visitem a Mundo Fantasma.
Winning Time (HBO Max)
Não percebo nada de basquetebol.
Agora que está feito o aviso prévio, uma afirmação nada tendenciosa: das melhores coisinhas que estou a ver este ano. A sinopse chega para explicar o que podem esperar. Trata-se de uma série de ficção que recorda o percurso dos LA Lakers de 1980, que passou de patinho feio, e à beira do colapso financeiro, a uma das melhores equipas em campo com o seu Magic Johnson e companhia. Repito: não percebo nada de basquetebol, mas estou viciado. Não só pela história, que não faz dói dói a quem, como eu, percebe ou sabe pouco do desporto, mas porque estes episódios são uma espécie de máquina do tempo.
Apesar de ser uma série de ficção, está filmada para se assemelhar a uma espécie de docudrama com cenas gravadas em câmaras antigas para replicar o mood, o ambiente e o registo granular dos anos 80 que nos enchem de nostalgia. A escolha é propositada e torna tudo mais autêntico, se é que falar de autenticidade em televisão (ou streaming) faz algum sentido. O elenco é excelente, a realização é uma maravilha e a história, tal como a que foi contada em The Last Dance, é tão emocionante que chega para fazer vibrar até quem não percebe absolutamente nada de basquetebol.
Em grande parte, porque o foco não é desporto, mas sim uma história de superação, que nos faz torcer pelos intervenientes. Para uma leitura mais aprofundada e informada, recomendo-vos este texto, no Observador, assinado pelo João Bonifácio.
Winning Time vai levar vários Emmys para casa. Disso não tenho dúvidas.
Algumas coisas giras que vão poder ver no streaming em abril
Slow Horses, uma série com Gary Oldman, na Apple TV+. a 1 de abril;
Better Call Saul (T6, Parte 1), na Netflix. A 19 de abril;
Borgen (T4), na Netflix. A 14 de abril;
Roar, com Nicole Kidman no papel de Alison Brie, na Apple TV+. A 15 de abril;
Ainda não há confirmação oficial, mas espera-se que o filme The Batman chegue à HBO Max a 19 de abril. A informação terá sido revelada, acidentalmente, pela própria HBO nas suas plataformas oficiais. Também em Portugal, os filmes da Warner Bros. estão assegurados em streaming 45 dias após a estreia em sala;
The Dropout, sobre Elizabeth Holmes, chega à Disney+ em Portugal a 20 de abril;
Russian Doll (T2), na Netflix. A 20 de abril;
Heartstopper, a série da Netflix baseada na banda desenhada de sucesso. A 20 de abril;
A segunda temporada de The Flight Attendant estreia-se a 21 de abril na HBO Max;
They Call Me Magic, um documentário em quatro partes sobre o Earvin Magic Johnson, na Apple TV+. A 22 de abril;
A terceira temporada de Barry, na HBO Max. A 24 de abril;
We Own This City, com atores de The Wire e escrita pelo próprio David Simon, é a próxima grande série da HBO Max que vão querer ver. A 25 de abril;
Shining Girls, a nova série da Apple TV+ com Elisabeth Moss. A 29 de abril;
Ozark (T4, Parte 2), na Netflix. A 29 de abril;
Spy x Family, o mangá muito divertido que estou a ler, vai ter uma versão animé. Em Portugal, chega ao Crunchyroll em abril.
Outras coisas giras a que devem estar atentos
Obi-Wan Kenobi vai estrear-se a 27 de maio (e não a 25) com dois episódios, na Disney+. No mesmo dia, arranca a nova temporada de Stranger Things na Netflix;
Top Boy, uma das melhores coisas que a Netflix tem em catálogo (não confundir com Toy Boy), foi renovada para uma terceira temporada;
House of the Dragon estreia-se a 22 de agosto na HBO Max. Que o lançamento aconteça sem percalços, que ainda temos más memórias da última temporada de Game of Thrones na HBO Portugal;
A segunda temporada de Only Murders in the Building vai estrear-se a 28 de junho na Disney+;
É quase certo que True Detective vai voltar, mas desta vez sem Nic Pizzolatto a bordo;
Spencer, o filme sobre a princesa Diana, aqui interpretada por Kristen Stewart, está na Prime Video. Recomendo para quem quiser bocejar muito.
Obrigado a todos por continuarem desse lado.
Vemo-nos para o próximo mês.