"Derry Girls" é a melhor sitcom britânica que ninguém está a ver
Esta semana trago-vos também um thriller negro baseado num crime que tem tanto de violento como de real.
Agora que a febre de “La Casa de Papel” acalmou (embora não se tenha sentido o fenómeno de 2018) há mais coisas giras — e boas — para vos colar à televisão durante as próximas semanas.
E uma delas é uma sitcom britânica que regressou à Netflix com uma segunda temporada e que provavelmente ninguém sabe que existe. Culpa do algoritmo da plataforma?
Curiosamente, terá sido por estar pouco visível na Netflix que “Tuca & Bertie” foi cancelada depois de uma primeira temporada muito elogiada pela crítica.
Estas são as séries fixes para ver que deveriam estar a comentar com todos os vossos amigos.
“Safe” (Netflix)
👉 Foi uma das minhas preferidas de 2018, mas está longe de ser perfeita. Em parte devido à escrita, que começa com enorme potencial mas que no final nos leva a dizer: “tanta coisa para isto?”. A história já a vimos replicada noutras séries: uma miúda foge de casa e os segredos mais obscuros da comunidade onde vive vão sendo expostos a cada episódio.
É a prestação de Michael C. Hall que nos mantém focados — mesmo que, apesar de viver há mais de um ano no Reino Unido, continue a não acertar no sotaque.
Por ser britânica, é uma produção mais negra e geralmente menos espalhafatosa nos desfechos ainda que este vá ao encontro do cliché do costume: a ideia de que o dinheiro (todas as famílias da trama são de classe média-alta) não traz felicidade. E isso dá-nos sempre algum conforto, verdade?
“I Am the Night” (HBO)
👉 Estávamos em 1947 quando o corpo totalmente mutilado e sem vida de uma mulher foi encontrado em Los Angeles. Na altura ainda não se sabia, mas este seria um dos assassinatos mais violentos dos EUA pós-Segunda Guerra Mundial a ser discutido durante anos nos jornais.
O homicídio d’A Dália Negra (o nome dado à vítima de apenas 22 anos) gerou uma lista de mais de 150 suspeitos mas o culpado nunca foi encontrado.
Cerca de 72 anos depois, esta série usa o caso e as memórias da neta de um dos principais suspeitos (um ginecologista acusado de violar a filha), como inspiração.
Apesar de ser pouco falada e recomendada, é um thriller negro, tenso e perfeito para quem é fã de séries como “True Detective”, “Broadchurch” e “The Night Of”.
“Derry Girls” (Netflix)
👉 Feita a pensar naqueles que cresceram durante os anos 90, esta é talvez a melhor sitcom britânica que ninguém está a ver.
É uma história com e sobre miúdos. Ou, mais especificamente, sobre o que é ser-se adolescente num contexto político e cultural de grande tensão — em que a Irlanda do Norte sofre bombardeamentos de vários grupos paramilitares que estão contra o domínio britânico.
Mas o contexto é apenas ruído de fundo para percebemos a forma de agir das personagens que estão mais preocupadas com o facto de não poderem ir a um concerto por estarem de castigo ou por verem uma sessão de solário estragada depois de rebentar mais uma bomba.
Apesar do background sério e sufocante, a série é leve, ácida e muito satírica. E atualmente não há nada do género que lhe chegue aos calcanhares.
“You” (Netflix. Sugestão de Sophia)
👉 ”A série que meteu em causa a legitimidade de um stalker com base no sentido de humor ou no facto de ser bonito. É que, com dez episódios, começamos a afeiçoar-nos ao pobre Joe porque ele nos envolve com o seu humor negro, cultura e “inocência” — fazendo-nos acreditar que não tem outra hipótese a não ser matar quem se aproxime da amada.
O impacto da série foi tal que Penn Badgley, o ator que dá vida ao sociopata, pediu que não idolatrassem a personagem. ‘You’ diz-nos que é mais fácil perdoar um mau comportamento quando ele vem de um rapazito jeitoso e de riso fácil.
Embora não seja marcante, serve para nos pôr a pensar onde começa a obsessão e onde acaba a beleza de quem a alimenta.”
Obrigado a todos pela leitura e à Sophia, que no Twitter assina como Sophia Qualquer, por ter aceite o convite para escrever sobre a série “You”.
Vemo-nos na próxima edição da newsletter. Qualquer dúvida ou sugestão, encontram-me pelo Twitter.
Fábio André Martins