"Barry" é a lufada de ar fresco de que precisávamos
Um assassino decide ter uma vida normal e dedicar-se à representação. O problema? É um assassino.
Olá.
Muito obrigado por terem subscrito a newsletter e por todas as mensagens de incentivo que me enviaram. Vocês são incríveis.
Prometi que isto ia ser tudo menos aborrecido, por isso vamos já ao que interessa.
Estas são as séries que merecem a vossa atenção e o vosso tempo.
"Line of Duty” (Netflix). Foi-me vendida como sendo do mesmo criador de “Bodyguard”, mas melhor. E é exatamente isso. Acompanha o departamento de anti-corrupção da polícia britânica e as investigações a vários agentes que parecem estar envolvidos no crime organizado. A série está repleta de momentos intensos, twists incríveis (mas nada cliché) e interrogatórios que vão dos 0 aos 100 muito depressa.
Em cada temporada (são quatro) há um caso e personagens novas, e a história vai ficando cada vez mais complexa e difícil de prever — o que é raro. A contar os dias para que a quinta temporada chegue a Portugal.
“Bad Blood” (Netflix). A série de máfia que deveriam estar a ver por ter a quantidade certa daquilo que fãs de “O Padrinho” ou “Os Sopranos” procuram: relações de poder, conflitos entre organizações e personagens marcantes. Acompanha um chefe da máfia à medida que enfrenta problemas dentro da sua família (um filho insubordinado que quer chegar ao poder) e a traição de organizações rivais que o querem ver morto.
É das séries mais subvalorizadas de 2017 que não cai nos erros comuns de glorificar os mafiosos ou a violência que perpetuam. O elenco é de luxo, com Kim Coates (“Sons of Anarchy“) e Anthony LaPaglia (“Sem Rasto“) nos papéis principais.
“The Act” (HBO). Gypsy foi uma criança com leucemia e distrofia muscular que era alimentada por uma sonda. O problema? Nada disto era verdade e só aconteceu porque a mãe sofria do síndrome de Münchhausen, que a levou a fingir as doenças da filha com o objetivo de ter todas as atenções para si.
Apesar de macabra e insólita, a história é real e já inspirou uma reportagem e um documentário — também na HBO.
Com Patricia Arquette (“Medium“) e Joey King (“The Conjuring“) nos papéis principais, “The Act” merece muito o vosso tempo. Mas é preciso estômago.
“Barry” (HBO). Um assassino contratado viaja até Los Angeles para assassinar um alvo. O hilariante é que, a meio da missão, decide que quer ser ator numa companhia de teatro. É uma comédia negra com momentos que conseguem levar ao choro e, logo a seguir, ao riso incontrolável. As personagens estão bem construídas, são credíveis e assentam em estereótipos que gostamos de ver deliciosamente ridicularizados.
No fundo, é a lufada de ar fresco que fazia falta numa altura em que há cada vez mais séries com histórias confusas. Aqui a ideia é simples: um assassino introvertido e desajeitado quer a oportunidade de uma vida normal. Problema? É um assassino. Está feito o piscar de olhos aos fãs de “Dexter”.
A segunda temporada começou a meio gás mas continua a valer a pena — nem que seja para desligar o cérebro com episódios de mais ou menos 30 minutos.
“The Night Of” (HBO). Foi uma das séries injustamente ignoradas em 2016 e diz muito sobre nós: desde o preconceito face ao que é diferente à facilidade com que julgamos os outros sem provas.
Conta a história de um rapaz muçulmano que é preso depois de a mulher com quem teve uma one-night stand aparecer morta. A série é complexa e demora até ganhar consistência, mas nunca senti que estivesse a perder tempo enquanto a conspiração em redor de um assassinato ia sendo tão bem desvendada.
O final é um bocadinho como a vida: agridoce, fodido e frustrante. Mas talvez por isso tenha sido tão real e tão bom.
“Killing Eve” (HBO). Ainda não vos sei dizer o que me viciou na série, mas a verdade é que a vi toda na véspera da estreia da segunda temporada. Dizer que odeio a Sandra Oh é eufemismo, mas a Jodie Comer safa isto facilmente e é a força motora de todos os episódios. Basicamente, é sobre uma agente do MI5 que fica obcecada por uma psicopata que mata com estilo e glamour por onde quer que passe.
É um verdadeiro jogo de gato e rato que entretém e faz não querer parar. À semelhança de “Barry”, consegue ser dramática ou hilariante quando quer, sem nunca aborrecer ou parecer demasiado forçado.
Se não gostaram dos primeiros capítulos, talvez não faça sentido forçarem só para acompanharem a segunda temporada. Mas quem gostou não vai sair desapontado com a história que se tem mantido consistente. E até já foi renovada para uma terceira temporada.
“Dogs of Berlin” (Netflix). Esta é de 2018 mas também foi meio que ignorada. Passa-se na Alemanha e mostra o confronto entre a polícia, a máfia turca e a extrema-direita alemã quando um jogador turco, titular da seleção nacional, é assassinado.
As casas de apostas têm milhares de euros apostados no jogador com dinheiro financiado por políticos, agentes da polícia e mafiosos. Quem o mandou matar? Por incrível que pareça, é a pergunta que menos importa responder nesta série repleta de jogos de poder.
Nenhuma das personagens é boazinha ou sequer merecedoras de compaixão, o que só por si foge ao género policial. É tudo gente nojenta e sem escrúpulos. E é isso que queremos, certo?
A história é negra, cruel e — caso não se confirme o regresso para uma segunda temporada — insatisfatória. Mas os dez episódios estão tão bem feitos que é difícil não recomendar.
Séries que talvez valham a pena se estiverem no mood certo.
“Love, Death & Robots” (Netflix). Série de animação com episódios curtos (10 a 17 minutos) que vão da violência gratuita ao nonsense puro. A animação está perfeita mas carece de uma mensagem que não seja meramente conceptual ou estética. O Bruno Nunes resumiu-a melhor do que eu alguma vez conseguiria: é como uma espécie de stand-up de one liners onde se “pode tirar proveito das partes, mas o todo não tem mensagem nenhuma.”
"O Nosso Planeta“ (Netflix). Tem o selo de qualidade que acompanha David Attenborough, e é incrivelmente belo. Mas não foge muito àquilo a que nos habitou. O foco continuam a ser as alterações climáticas e a forma como estamos a destruir o planeta. Mas suponho que seja adequado apenas para sessões de binge específicas e com a companhia certa.
“The OA” (Netflix"). É daquelas séries que se ama ou se odeia, de tão absurda ou genial que consegue ser. Imaginem “Stranger Things”, “Black Mirror” e “Sense8” misturadas. “The OA” é tudo isso e o seu inverso e é das poucas que tem a capacidade de ser sombria e, ainda assim, cultivar alguma réstia de esperança em que a vê. A segunda parte estreou a 22 de março e superou a qualidade da primeira. Mas não é para todos.
Séries que não deviam ver nem que vos pagassem.
“Osmosis” (Netflix). Mais um universo distópico e mais uma série que mostra como somos umas bestas que até com a tecnologia arranjamos forma de nos desgraçarmos. A diferença é que, ao contrário de “Black Mirror” (que acho sobrevalorizada, já agora), “Osmosis” tem medo de ir mais além. Até porque os atores são maus, as personagens não têm tempo de crescer e a história é tão básica que não traz nada de novo.
Um serviço de encontros online junta parceiros através das suas memórias pessoais. A pergunta que a série faz: Quão mau é permitir que um algoritmo decida o amor das nossas vidas? Ninguém quer saber, porque já sabemos a resposta.
“Warrior” (HBO). Estava muito ansioso por ver isto, até porque foi baseada nas ideias de Bruce Lee que nunca chegaram a ser concretizadas, até agora. Passa-se em meados de 1880, numa altura em que um prodígio de artes marciais chega da China a São Francisco, nos EUA, em busca da irmã.
No processo, acaba por se associar a uma das máfias mais poderosas de Chinatown e serve apenas como pretexto para mostrar coreografias de pancadaria e mamas.
Os atores são medíocres, a história é previsível e promete não passar do mesmo. Pelo meio, esperam-se traições, mudanças de alianças e uma revolta da personagem principal contra a organização criminosa que o acolheu. Leram aqui primeiro.
É tudo por enquanto. Dúvidas ou sugestões? Podem encontrar-me pelo Twitter e acompanhar toda a discussão seguindo (e usando) a hashtag #seriesfixesparaver. Quero muito ler o vosso feedback.
Se gostaram da newsletter, partilhem com a vossa família e amigos que estão sempre indecisos sobre o que ver a seguir. Quantos mais formos, melhor.
Salvo alguma exceção importante, a próxima newsletter deverá sair daqui a um mês, a 10 de maio. Muito obrigado mais uma vez.
Até lá,
Fábio André Martins.